Being Dao e Gungfu (em japonês: Koufu)

De: Padre João Manoel Lima Mira

1 – O encontro com Dr. Woo

Meu primeiro contato com dr. Woo deu-se através da recém-falecida, professora Francisca Mendes Carneiro. Ela foi sem dúvida alguma uma das fundadoras da ACBC. Que Deus lhe dê o eterno repouso e a recompense por todo o bem que ela fez pela ACBC.

Foi com ela comecei os primeiros contatos com a Embaixada da Republica Popular da China, que nos forneceu muitos materiais escritos bem como filmes que tivemos a oportunidade de apresentar no Centro Integrado de Cultura da cidade de Florianópolis. Assim começava a ACBC naquela cidade.

O encontro com dr. Woo marcou na minha vida o início de uma nova visão de arte marcial.

Em primeiro lugar foi muito gratificante perceber que ele não cobrava nada para ensinar. Pessoalmente eu já vinha de uma experiência bastante desagradável neste sentido. Em segundo lugar percebi que filosoficamente falando dr. Woo correspondia ao que estava procurando dentro das artes marciais. Na pessoa dele encontrei a síntese da visão japonesa e chinesa das artes marciais. Já havia lido clássicos do Zen-Budismo, Daoismo, Go Rin no Sho, Hagakure, Tengu Geijutsu Ron, Dao de Qing, Yi Qing etc., para citar apenas alguns. E não vinha apenas lendo estes livros mas tentava integrá-los na minha vida.

Jamais entendi as artes marciais apenas como arte de auto-defesa física, e sim como arte de desenvolvimento pessoal integral. Dr. Woo confirmou a minha busca pessoal.

Contudo não quero dizer que a auto-defesa física não seja uma aspecto importante destas artes. Convém não esquecer que nós “somos corpo” e não “temos um corpo” como se ele fosse um instrumento descartável que pudéssemos abandonar sem que isto comprometesse a nossa essência como seres humanos e portanto criaturas.

Também segundo a visão da Bíblia, nós “somos templos de Deus”. Pena que muitas vezes ao longa da história as igrejas cristãs não acreditaram nesta verdade, justificando a escravização dos africanos e a dominação da mulher. Quantas mulheres não foram queimadas na Inquisição em “nome de Deus”? Por nosso corpo ser “templo”, temos o dever de proteger, alimentar e desenvolver nossa corporeidade. Todo e qualquer ataque ao nosso corpo – seja ele físico, moral e psíquico – é um ataque à totalidade de nosso ser.

Atualmente há muitas pessoas que querem praticar as artes marciais apenas para “relaxar” (relaxar é bom para dormir) ou para “transcender” (querer transcender fugindo da realidade é alienação!).

A visão do dr. Woo me ajudou a aprofundar e a enxergar todo este mundo das artes marciais com outros olhos. É como diz Teilhard de Chardin: “ver ou perecer”. Juntamente com todo o processo evolutivo do cosmos, a nossa vida consiste em tentar criar “olhos” cada vez mais e mais perfeitos para que possamos “ver” a realidade pessoal, social e espiritual como ela é em si mesma.

Por meio dele, aprendi que Gung Fu não é sinônimo de arte marcial. Querer reduzir Gung Fu a arte marcial é um grande equívoco. Em primeiro lugar, Gung Fu em chinês, simplesmente significa “habilidade” – superficialmente falando – e arte marcial em chinês chama-se “wu shu”.

Por hoje paro por aqui. Futuramente gostaria de escrever um pouco sobre o conceito de Gung Fu, que encerra dentro si todo um mundo que não se limita ao conceito de arte marcial nem tampouco ao de “habilidade”.

Até mais.

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