A expressão “
Tai Chi Chuan” é uma designação genérica para uma série de exercícios criados na China em sua tradição milenar. Ele nasceu de exercícios para defesa. Como veremos mais adiante, pouco a pouco ele foi perdendo esse caráter marcial, transformando-se em movimentos que lembram bailados, embora ainda subsistam variedades tidas como explosivas.
O fato é que o
Tai Chi Chuan faz parte da tradição milenar de artes marciais (W
ushu) chinesas, divididas em artes marciais internas ou esotéricas (
Nei Jia) e externas ou exotéricas (
Wai Jia). É nas primeiras, de orientação taoista, que se inclui o Tai Chi, juntamente com duas outras técnicas, ou seja, “boxe do corpo e do pensamento” (
Xingyi Quan) e “boxe dos oito trigramas” (
Bagua Quan). Essas últimas, de orientação budista, são violentas, ou seja, são efetivamente marciais. Uma de suas manifestações mais conhecidas é o
Kung Fu (Gong Fu), além do
boxe de Sholin (Sholin quan). O
Tai Chi Chuan é a mais popular das artes marciais internas, que são:
Tai Chi Chuan (Taijiquan), Pa kua Chang, Hsing Chuan e Liuhe Pa Fa.
A expressão “Tai Chi Chuan“, ou Taijiquan em pinyin, significa aproximadamente “técnica de combate à mão da suprema cumeeira” ou “boxe da suprema cumeeira”, diferentemente de outras modalidades como Tai Chi com espada (Taiji Jian) ou Tai Chi com sabre (Taiji Dao). Ele deve ter surgido no século XVII entre as milícias camponesas com a finalidade de se defenderem tanto de funcionários corruptos do estado quanto de bandidos. Só a partir da virada do século XIX para o XX é que se começou a registrar os movimentos dessa arte marcial, embora cada família desenvolvesse seu estilo, transmitindo-o secretamente apenas de pai para filho. Inclusive o mestre Woo participou dessa tradição em Taiwan.
Segundo a lenda, o fabricante de elixir Chang Sanfeng (1127?-1279?), das montanhas de Wudang, sonhou que o imperador Xuan Wu lhe ensinara a arte de luta com as mãos. Uma outra afirma que ele criou o tai chi observando a luta entre uma ave e uma cobra, que se encurvava, esquivava-se de modo que a ave não conseguia pegá-la. Ele teria utilizado a técnica da cobra. Com isso, passou a divulgar a arte. O que parece mais certo, porém, é que o tai chi teria surgido em Chenjiagou, distrito de Wenxian, província de Henan, há mais de 300 anos, ou seja, na transição da dinastia Ming para a dinastia Qing.
Outra figura que contribuiu muito nessa fase inicial é o bravo comandante de Wenxian chamado Chen Wangting. Contrariamente às artes anteriores, que enfatizavam os movimentos rápidos e os golpes potentes, o
Tai Chi seguia o princípio da água, de opor o fraco ao forte, de não lutar contra uma força maior, mas de usá-la em seu próprio favor. Predomina a harmonia de movimentos, sem interrupções, como as águas de um rio. Incialmente, compunha-se de 8 posições das mãos e 5 posições variáveis, motivo pelo qual foi chamado de “estilo de 13 forma. No século XVIII, o professor de artes marciais Wang Zongyue sistematizou o
Tai Chi Chuan, relacionando-o à filosofia do
Yin-Yang. É com ele que ficou estabelecido o nome
Tai Chi Chuan (Taijiquan).
No começo, o tai chi era praticado quase só pelos camponeses de Henan. Em 1852, Yang Luchan (1799-1872), da província de Hebei, levou-o para Pequim, de onde se espalhou por
toda a China, tornando-se muito popular. Ele é talvez o primeiro a registrar a arte como uma disciplina psicossomática. A partir daí, começou a surgir uma série de estilos diferentes. O mais conhecido é o estilo Yang, da escola de Yang Chengfu (1883-1936), que era neto de Yang Luchan. Nesse estilo, os movimentos são lentos, leves, uniformes, feitos com grande naturalidade, sempre em movimentos curvos. No entanto, a escola mais antiga é do estilo Chen, mais conservador, portanto, mais explosivo e vigoroso, mas também em movimentos circulares. Há também o estilo Wu, divulgado por Wu Jianquan (1870-1942), discípulo de Yang Luchan. Consta também de movimentos suaves, encadeados, numa trajetória circular. Curiosamente, existia outra escola de Wu, fundada por Wu Yuxing (1812-1880), camponês amigo de Yang Luchan. É conhecido também como estilo Hao, por ter sido divulgado por Hao Weizhen (1849-1920), discípulo de Wu Yuxiang. Por fim, há uma quinta escola, desenvolvida por Sun Lutang (1861-1932), às vezes chamada de estilo Sun, ex-aluno de Hao Weizhen. Há muitos sub-estilos de cada uma dessas cinco escolas. Em todos eles, no entanto, deve-se manter o tronco ereto, com movimentos leves como os do gato. Como diz o manual do governo chinês, “os movimentos, como as nuvens do céu, são ágeis e ligeiros, mas equilibrados e firmes. O movimento é solto e fluido, e não existe qualquer indício de retesamento ou rigidez nos músculos. A respiração, profunda e lenta, é a tranquilidade que liga e coordena os movimentos, o abrir e fechar dos braços e colocação das pernas”. Combinam-se vigor e suavidade. A atitude mental também é de suma importância. Deve haver uma concentração no aqui e agora, alerta, mas tranquilo. Firme, mas não tenso. Vale dizer, é preciso unir o nível físico ao mental, tudo em harmonia com a respiração.
Em 1956, a Comissão Estatal de Cultura Física e Desportos da China, do governo comunista, criou a série de 24 movimentos, que passou a ser conhecida como
Tai Chi de 24 movimentos (24 formas), base do que se pratica na Praça da Harmonia Universal. Atualmente, ela é praticada no mundo inteiro. Ela se baseia em movimentos que fazem parte da tradição milenar chinesa. O objetivo do governo socialista era que ficasse mais fácil para ser praticado pelas massas. É o que efetivamente aconteceu pois, como vemos de vez em quando na televisão, muitos chineses a praticam em grandes grupos em praça pública.
Continua o manual: “O
Taijiquan exige uma ação de conjunto das mãos, olhos, corpo e membros, como um todo, e em que
a cintura funciona como eixo de rotação e as pernas como base de apoio”, com as pernas ligeiramente flexionadas. A atenção deve estar em todas as partes e movimentos, não apenas em um deles. A propósito, esse princípio lembra a estrutura dos trigramas do I Ching, em que a linha de baixo representa a terra, a de cima representa o céu e a do meio representa o homem, que é a ligação entre os dois. Ter em mente que, como a árvore, somos a ligação entre o a terra (Yin) e o céu (Yang) ajuda no aperfeiçoamento da prática do Tai Chi.
A
Escola Chen é a mais antiga. Segundo Chen Pinsan, o nome deriva de seu antepassado Chen Wangting, do final da dinastia Ming (século XVII), um descendente dele, Chen Changxing (1771-1853), pois foi no interior de sua família que Yang Luchan aprendeu a arte que levaria para Pequim e se tornaria popular como estilo Yang. Yang Luchan (1789-1872), sabendo que Chen Changxing só ensinava a arte aos membros da própria família, empregou-se nela como criado, podendo espionar o que eles praticavam. Quando o mestre percebeu que ele tinha valor, resolveu ensinar-lhe tudo. Depois, Yang Luchan ensinou a arte a seus conterrâneos de Hebei, antes de partir para Pequim, onde fundou uma escola. Com ele, o tai chi começou a se popularizar nas cidades, deixando de ser uma coisa só de camponeses. Seus três filhos (Yang Banhou, Yang Jianhou, Yang Fenghou) desenvolveram estilos de
Tai Chi. Yang Chengfou (1883-1936), terceiro filho de Yang Jianhou, divulgou o
Tai Chi por toda a China. Na verdade, é a partir de sua viagem ao sul do país que essa arte assumiu funções profiláticas e, posteriormente, terapêuticas, deixando de ser uma arte marcial para briga.
Chen Weiming, discípulo de Yang Chengfu, contribuiu grandemente para a difusão do estilo Yang, a partir da escola que fundou em Xangai. Ele publicou muitos livros sobre o
Tai Chi. Ele teve contato com Sun Lutang, tido como fundador de um estilo próprio de
Tai Chi. Veja um
gráfico que mostra toda as linhagens de
Tai Chi Chuan.
O tai chi exige muita dedicação, persistência e força de vontade. Só se realiza no
Tai Chi Chuan quem tem essas qualidades, sobretudo muita disciplina. Mas
disciplina no bom sentido, aquela que põe as regras para nos servir, não no sentido da
formalidade, que nos põe a servir as regras.
Benefícios do Tai Chi
Físicos: aumenta a flexibilidade, fortalece os ossos e as articulações, tonifica os músculos, estimula a circulação sanguínea, normaliza a produção hormonal, melhora a respiração, corrige desvios posturais, beneficia o sistema nervoso central e revigora a energia vital.
Emocionais: acalma as emoções e promove o equilíbrio. Abre o coração, estimula a criatividade, disciplina, aumenta a confiança, desenvolve potenciais positivos, melhora o convívio social.
Espirituais: promove a paz interior. Facilita o discernimento dos verdadeiros valores da vida, eleva o espírito.
O objetivo do
Tai Chi Chuan é evitar o confronto, o ataque, é fugir de brigas e confusões. Você passa a ter mais paciência e jogo de cintura. Ele serve para descarregar a tensão e recarregar as energias.
No espírito do
Tai Chi Chuan e da medicina chinesa, a base da saúde está diretamente ligada à energia interior chamada
Chi. Assim, os movimentos do
Tai Chi Chuan, que significa “suprema arte dos punhos”, harmonizam e equilibram essa energia, aumentando o poder interior.
Há séculos observa-se que os praticantes de
Tai Chi Chuan apresentam características de saúde diferenciadas. Eles são mais tranquilos, calmos, saudáveis, centrados, mais dispostos e felizes.
Esso constatação levou ao desenvolvimento de diversas pesquisas, que, ao longo do tempo, vêm comprovando cientificamente os benefícios terapêuticos do
Tai Chi Chuan na manutenção da saúde e da longevidade.
Já está comprovado que a prática desta arte é eficaz contra as artrites, a osteoporose, distúrbios dos rins, obesidade, problemas de coluna, complicações respiratórias e cardiovasculares. Por isso, ela é muito indicada para pessoas idosas”, diz ele, afirmando que crianças também podem praticar a técnica, já que ela desenvolve a coordenação motora.
Resumo do que é o Tai Chi Chuan
O
Tai Chi Chuan, faz parte das artes marciais milenares chinesas difundidas pelo mundo todo.
Mover lentamente, respirar em harmonia, equilíbrio como brisa suave e fundir com natureza, “é como nadar no seco” como diz o Mestre Moo Shong Woo.
O
Tai Chi Chuan é a energia infinita, arte da longa vida, arte da energia nos punhos, meditação no movimento, pois embora suas raízes estejam na antiga China, apresenta-se com ênfase na graciosidade, na sutileza e num ritmo cadenciado pela leveza, algo nada comum na sociedade ocidental.
Sua prática relaxa a mente e o corpo, e é benéfica para o coração, a circulação, tornando as flexíveis as articulações e rejuvenescendo a pele, acalmando o sistema nervoso, auxiliando a digestão. Na respiração o oxigênio é absorvido para nutrir e energizar o corpo e as toxinas são mais facilmente eliminadas.
Bibliografia consultada
– CHERNG, Wu Jyh. 1998. Tai chi chuan – a alquimia dos movimentos. Rio de Janeiro: Mauad, 4a ed.
– DESPEUX, Catherine. 1987.
Tai Chi Chuan – a arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Editora Pensamento.
– COMISSÃO Estatal de Cultura Física e Desportos da China. 1983. “Taijiquan” simplificado. Pequim: China em Construção.
Qing, Sun Jun. 1999. Chikung: a iluminação do coração através do Wudang Chikung. São Paulo: Madras Editora Ltda.
WONG, Eva. 1997. Taoism. Boston/Londres: Shambhala.